A reunião entre a Prefeitura de Caraguatatuba e a Sabesp, realizada no dia 15 de janeiro, marca um passo importante na gestão do saneamento básico do município, com promessas de investimentos robustos e metas ambiciosas. Entretanto, o encontro também suscita reflexões críticas sobre a viabilidade, execução e impactos dessas ações em longo prazo.
A Promessa de Universalização do Saneamento
A meta anunciada pela Sabesp de universalizar o saneamento básico em Caraguatatuba até 2028 é, sem dúvida, louvável. Garantir água e esgoto tratados para toda a população é uma demanda histórica e essencial para o desenvolvimento sustentável do município, além de ser um direito básico. No entanto, o cumprimento dessa meta exige mais do que investimentos financeiros: requer planejamento estratégico, fiscalização rigorosa e uma gestão integrada com outras áreas, como saúde, meio ambiente e urbanismo.
A promessa de mais de R$ 2 bilhões em investimentos até 2060 parece promissora, mas é necessário questionar a transparência na aplicação desses recursos e a priorização das áreas de maior vulnerabilidade. Como garantir que comunidades periféricas e regiões menos atendidas sejam contempladas primeiro?
Sazonalidade e Gestão Hídrica
“O saneamento básico é essencial para a qualidade de vida da nossa população. É importante que as metas sejam alcançadas com responsabilidade e eficiência”, afirmou o prefeito Mateus Silva. Destacando a preocupação com a reserva de água, o prefeito também reforçou a necessidade de estratégias para assegurar a reserva de água potável, especialmente em períodos de alta demanda, como temporada e feriados, considerando que Caraguatatuba é um destino turístico popular e enfrenta picos populacionais que pressionam severamente os sistemas de abastecimento e esgotamento sanitário.
Porém, a discussão sobre gestão hídrica não pode se limitar ao armazenamento. É preciso abordar o impacto ambiental da exploração de recursos hídricos, especialmente em áreas protegidas ou vulneráveis, como as localizadas no entorno do Parque Estadual da Serra do Mar. Além disso, práticas de reutilização de água e a conscientização da população sobre o uso responsável devem ser integradas ao planejamento.
Impacto nas Vias Públicas e Rotina da População
A preocupação do prefeito com os reparos imediatos nas vias públicas após intervenções da Sabesp é pertinente. Os transtornos causados por obras de saneamento, especialmente em áreas urbanas, são uma queixa recorrente da população. No entanto, essa questão aponta para um problema maior: a falta de planejamento coordenado entre obras públicas e concessionárias.
Para mitigar os impactos, seria necessário um calendário claro de intervenções, divulgado com antecedência, e a implementação de um sistema de monitoramento para garantir a qualidade das obras de reparo. Esse tipo de transparência também fortalece a confiança da população nos projetos em curso.
O Desafio da Longa Concessão
A vigência do contrato até 2060 levanta preocupações sobre a adaptabilidade do plano às mudanças tecnológicas, demográficas e ambientais que o município pode enfrentar nas próximas décadas. Um contrato tão longo requer cláusulas de revisão periódica e mecanismos que assegurem a atualização das estratégias diante de novas demandas.
Além disso, é essencial que a população seja informada e ouvida durante o processo. A ausência de consultas públicas pode criar um distanciamento entre o planejamento e as reais necessidades da comunidade.
O encontro entre a Prefeitura de Caraguatatuba e a Sabesp demonstra um compromisso em abordar um problema estrutural que afeta diretamente a qualidade de vida dos moradores. Entretanto, para que essas iniciativas tenham êxito, é necessário superar desafios relacionados à transparência, planejamento integrado e execução eficiente.
O sucesso dessa parceria depende de uma gestão que priorize não apenas o cumprimento de metas, mas também a participação da população e a preservação do meio ambiente. Afinal, saneamento básico não é apenas uma questão de infraestrutura: é um pilar essencial para o desenvolvimento humano e sustentável de Caraguatatuba.
Fonte: Marina Larcher/PMC
